Meninas negras costumam ter dificuldade para achar imagens que as representem. Encontrar figuras negras em situações de poder que possam servir de espelho é complicado. Nesse caso, a menina não se viu representada nem mesmo em um simples concurso escolar, e a pergunta que fica é: por quê? Apenas meninas brancas serem escaladas para o concurso nos mostra como a sociedade tende a não encontrar beleza em nossas peles escuras e em nossos cabelos crespos e cacheados.
Desde crianças, somos vistos como sujos apenas por sermos negros, e este trecho mostra exatamente esse ponto. Ser negro sempre foi sinônimo de sujeira, e nossos pais, por sentirem isso há mais tempo que nós, tentam nos proteger dessa violência, muitas vezes "escondendo" nossos traços naturais, como nossos cabelos, passando potes e potes de gel, trançando e fazendo o possível para que nosso cabelo "duro" não apareça. Ou seja, nesta visão, quanto menos traços negros tivermos, mais limpos e arrumados estaremos.
Outra vez vemos a falta de autoestima presente na menina. A forma como ela não gosta muito da sua imagem não vem 'do nada', mas sim de toda uma estrutura que, desde sempre, enaltece apenas pessoas brancas de cabelos lisos; de uma indústria que demorou anos para começar a nos enxergar como mulheres crespas/cacheadas que também precisam de produtos direcionados aos seus cabelos; de uma cultura onde se referir a cabelos crespos como 'bombril', 'duro' e 'ruim' foi normalizado. Não há como ter autoestima em uma sociedade que nos instiga ao ódio desde cedo.
Padrões de beleza, uma ideia criada para dizer o que é ou não bonito, onde um dos requisitos é ser branco/a. Ou seja, uma ideia inalcançável para muitos.
essa frase, apesar de forte, expressa uma expectativa de que o filho transcenda a realidade que a mãe enfrentou, marcada muito provavelmente pelo trabalho doméstico.
ela quer que ele tenha acesso à educação e, consequentemente, a melhores oportunidades de vida.
a segunda frase já reforça essa ideia de progresso e mudança. a mãe acredita que o futuro deve ser melhor do que o passado, e que é essencial que seu filho faça parte dessa evolução, rompendo com as limitações que foram impostas e que ela própria enfrentou em sua vida
A forma como a menina vê seus cabelos, chega a parecer um reflexo de nós meninas crespas/cacheadas. “a palavra errada dos outros entra como navalha na gente”, somos ensinados a nos odiar, ensinados que nossos traços não são bonitos e precisam ser mudados e encaixados dentro de um padrão, não tem como amar algo que nos ensinam a odiar. Além disso, normalizam falas racistas desde sempre, fecham os olhos e fingem não perceber que isso também é violência, por mais "discreta" que seja.
Estão tão acostumados a só verem pretos "derrotados" que tendem a refletir isso em qualquer preto que tenha sonhos exija muito esforço e dedicação. Ao invés de nos ajudarmos, acabamos derrubando os outros apenas porque não conseguimos chegar onde queríamos.
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E assim surge a consciência racial. O momento na vida de todos nós negros, quando finalmente nos descobrimos negros e passamos a ver nossa realidade e as histórias já vividas, de uma outra forma.
Essa frase carrega muita força e verdade. Ela destaca que nossa ancestralidade é marcada por lutas coletivas, e não por um sofrimento isolado. Quem tenta romantizar o sofrimento negro claramente não viveu essa realidade, porque nossa história é de resistência e união, e não de sacrifício glorificado.
Quando a consciência racial bate na nossa porta parece um choque que percorre o corpo e para nosso coração por uns segundos. Ver muitos dos "nossos" sendo brutalmente assassinados, nossa mente tende a nos colocar nesse papel também, a sensação de que podemos ser o próximo e para "os grandes" isso não vai ser nada, porquê para eles é isso que nossa vida vale, nada! vemos com muita frequência jovens como nós, pretos e na maioria das vezes pobre sendo mortos e ninguém ligando, vemos nosso reflexo, nos vemos ali, vemos nossas famílias e amigos, vemos nossa vida passando em nossos olhos como um filme e um filme triste onde tudo que temos é um enredo de muita luta e sofrimento em meio a uma sociedade racista.