Carolina Kuhn Facchin

Ela tinha olheiras que pareciam carregar um universo de cansaço.

Memórias começaram a aparecer, e ela as afastou. Ela tinha preocupações mais importantes agora.

Mas o tempo não é amigo de ninguém.

Ainda não tinha certeza de que gostava dele, mas, para sua surpresa, começou a sentir um respeito relutante que prometia logo sair para a luz.

Afinal, todo mundo sabe que os médicos passam um ano inteiro da graduação aprendendo a escrever de um jeito ilegível, como se fosse um código secreto.

Sobreviver a isso tudo uma vez tinha sido o bastante. Sobreviver uma segunda vez apenas evidenciaria quão frágil o espírito humano realmente é.

Ela redirecionou o olhar para as pessoas na rua. Elas eram uma coleção de histórias, cada uma parte da grande narrativa da vida.

teve certeza de que a esperança que ela sentia só podia ser sustentada por Deus.

Ela não se lembrava muito de quando era criança. Havia momentos que o tempo parecia manter fora de alcance e que ela desejava poder reviver. Também havia momentos futuros que a assombravam, as risadas que eles nunca compartilhariam, as viagens que eles nunca fariam, as histórias que ele nunca contara. Pensar nisso fez seu estômago revirar. Ainda havia tanto para ser dito e feito, e ela queria que ele estivesse presente.

Este era o lugar que seu pai amara, mas era impossível para ela amá-lo do mesmo jeito. Ela sentiu como se estivesse presa em um pesadelo do qual não podia sair, como se alguém tivesse puxado o tapete debaixo dela e roubado sua vida.