SOBRE A OBRA
«A busca por um conceito de pessoa, pós-metafísico, é iniciada como maneira de desatar este nó, e o resultado é verdadeiramente admirável, talvez por ser elucidativo do caráter paradoxal do sentido de ser pessoa: a renúncia a direitos da própria
personalidade é forma de a pessoa viver, da maneira mais profunda, a pessoalidade. Os melhores trabalhos acadêmicos, em geral, não têm a pretensão de esgotar as questões a que abordam. Procuram aclarar o que há muito está obscurecido, apontar caminhos e vias de análise e mostram-se, sobretudo, como projetos inacabados.
Lembro-me de que, recém-ingresso no mestrado, quando da publicação da primeira
edição deste livro, chamava-me atenção que o autor, em suas aulas no programa de pós—
graduação em direito da UFMG, ao discutir temas invariavelmente conectados ao objeto
perseguido na tese, buscava sempre apontar as ideias e temas discutidos neste livro
como propostas provisórias a partir das quais poder-se-ia avançar na análise de questões
prático-jurídicas prementes da contemporaneidade, tais quais o papel da corporeidade
biomaquínica na constituição da pessoalidade, quais as bases informacionais da pessoalidade, em que medida humanidade e pessoalidade estariam mutuamente
implicadas, como o conceito de pessoa adequa-se a alguma noção de identidade, dentre
outras. As suas propostas, defendidas neste livro, sempre eram colocadas como
apontamentos iniciais, a serem explorados e reformulados por outros pesquisadores em busca de respostas para as suas próprias indagações. Daí que a metáfora do “projeto
inacabado”, que o autor utiliza para definir a condição da pessoa humana, aplica— -se
também a este livro. Foi concebido como uma exploração inicial de um tema fascinante
e rico, sem a pretensão de oferecer soluções definitivas às respostas que coloca, mas de fornecer pistas e fios de investigação a serem desvelados».
Trecho do prefácio de Daniel Mendes Ribeiro