«Para escrever o começo, há que ter vivido o fim». Assim começa No instante do céu, romance de estreia de Renato Tardivo. Conduzido em três camadas que se intercalam pelo mesmo narrador, o romance aborda as dolorosas — mas relevantes — separações de sua vida.
Na primeira camada, o narrador, se ocupa do casamento com Beatriz, com quem terá o filho Eduardo. Dessa camada, surge ainda mais um braço narrativo: textos literários produzidos pelo narrador-protagonista. A segunda camada trata de sua adolescência e aborda a relação com os pais e tia Sebá, a senhora que trabalhava em sua casa. E o terceiro eixo traz textos e imagens postados em redes sociais e aplicativos de mensagens, nos quais o narrador se dirige a personagens importantes da trama.
Pelas mensagens trocadas e pelos textos escritos pelo narrador, percebemos em flashes sua origem, seus dilemas, suas dúvidas e tudo aquilo que ele não consegue depurar. Dessa forma, passado e presente se intercalam e permeiam não só os fatos narrados, como também anunciam o futuro que não estará no livro.
O leitor tem em mãos um despretensioso romance de formação, de leitura ágil e fluida, que se constrói à medida mesma em que o narrador se reconstrói. Afinal, para ele, «sem separação, não há palavra nova. E sem palavra nova não há vida».