Não se trata de epidemiologia, virologia ou qualquer “logia”, a questão aqui é filosofia. Com efeito, Donatella Di Cesare leciona essa disciplina na instituição universitária mais antiga da Europa: La Sapienza, em Roma. O que pensar de uma democracia imunitária, na qual especialistas conquistam cargos no governo e o estado de emergência é permanente? O que dizer do “distanciamento social”, exceto que ele amplia o fosso entre os ricos e os que nada têm? Como classificar um vírus capaz de anular a própria ideia de fronteira? Como classificar os relacionamentos em que todos vivem escondidos atrás de uma máscara e ninguém ousa se tocar? O vírus tornou manifesta a brutalidade do capitalismo, que nos conduz a uma espiral devastadora. O que está acontecendo «não é só uma crise, mas também uma catástrofe em câmera lenta. O vírus deteve o dispositivo. O que se vê é uma convulsão planetária, o espasmo produzido pela virulência febril, fim da aceleração em si mesma, que chegou inexoravelmente ao ponto de inércia. É uma tetanização do mundo”. Este é o último aviso.