Em 40, o autor, através de uma visão larga e profunda, passa por importantes estágios da existência, como nascimento, primeira infância, aquisição da língua, escola, adolescência e boa parte da idade adulta. Em cada poema, um estágio da vida e muitas de suas inúmeras experiências. Identificação, reconhecimento e indagação fazem repensar a existência e estão inclusas no processo, não só de Maffei, mas de quem se depara com seus poemas. O livro sai do ano 1974 e chega a 2014 trazendo, poema a poema, não apenas uma trajetória de vida, mas uma trajetória poética — a autobiografia é inevitável, mas a memória que se constrói só há em partilha. Além disso, passeia por momentos históricos e datas festivas, com destaque para o Carnaval, período que marca a ocasião do nascimento do autor e, consequentemente, de seus aniversários, como é possível encontrar nos poemas “1974”, “1978”, “1992” e “2003”. O Carnaval acaba por ser uma metáfora forte do livro, assim como o incêndio do Edifício Joelma, em São Paulo, ocorrido dias antes do nascimento do poeta: vida e morte, festa e tragédia, de braços dados. Neste conjunto orgânico, é possível ter contato com muitas maneiras de a poesia se constituir. A já conhecida maestria formal do autor, que explora e inova a sextina, o soneto e outras formas fixas, não ignora a potência do verso livre e, em certos poemas, uma experimentação que toca limites radicais.