Naipaul mais de uma vez retomou com a memória ao tempo em que, ainda criança em Trinidad, ele sonhava em se tornar um grande escritor. Mas jamais nos havia contado com a vibrante força destas páginas como se aproximou à escrita e, antes ainda, à leitura; como conseguiu criar, em uma colônia na periferia do Império Britânico, um mundo só seu, alheio à literatura na qual se formou. Nem jamais havia confessado em que medida a relação com a Índia — «a grande ferida» de todos os emigrantes indianos nas ilhas do Novo Mundo — agiu em profundidade na sua vida, suscitando um jogo dramático de atrações e resistências. Aos poucos, Naipaul entendeu que a tarefa da sua obra literária era a tenaz exploração daquelas «áreas de escuridão» que marcaram sua infância e juventude. E, enquanto isso ocorria, mudava e se definia cada vez mais claramente nele o significado das obscuras potências que respondem pelo nome de ler e escrever. Esse emaranhado de questões encontrou voz em 2000, no ensaio que dá o título ao volume e, no ano seguinte, como uma espécie de conclusão natural, em seu discurso em ocasião do Prêmio Nobel.