Pioneira dos estudos feministas na Europa, interlocutora dileta de Jacques Derrida, autora de uma vasta obra que inclui ficção, ensaio e peças de teatro, a franco-argelina Hélène Cixous ganha, com este livro, o primeiro conjunto de estudos consagrado inteiramente à sua obra publicado no Brasil.
Em Hélène Cixous: A sobrevivência da literatura, Flavia Trocoli, oferece um panorama dessa produção a partir de uma fina análise de seus livros mais importantes, entre eles, alguns traduzidos por ela para o português. Mais conhecida no campo dos estudos literários por suas leituras de Clarice Lispector e de James Joyce, Cixous tem criado uma obra de difícil definição, o que o próprio Derrida nomeia «objetos literários não indetificáveis», que se apresenta como uma rica teia de sentidos reinventados nesse entrelaçamento de memória, identidade, linguas, sonhos, referências clássicas, perspectiva de gênero e psicanálise.
Nos sete ensaios reunidos nesta edição, Flavia Trocoli propõe diferentes entradas para lermos Hélène Cixous, buscando pensar as maneiras como, depois da morte, a literatura toma partido da vida. É o que aprendemos com Cixous: na literatura estão mortos e vivos, irmãos e irmãs de escrita, cidades e países longínquos, línguas distintas e tempos sobrepostos. Trata-se da insistência da vida em palavras, como a própria autora nos diz:
«Tenho necessidade de falar destas mulheres que entraram em mim, elas feriram-me, fizeram-me mal, despertaram os mortos em mim, desbravaram caminhos, trouxeram-me guerras, jardins, crianças, famílias estrangeiras, lutos sem sepultura, e provei o mundo nas suas línguas. Em mim, elas viveram as suas vidas. Escreveram. E continuam, não cessam de viver, não cessam de morrer, não cessam de escrever».