Nesse texto sulfuroso, o agrupamento anônimo Tiqqun descreve o colapso das formas de vida atuais, bem como das fórmulas que até hoje pretenderam dar conta de seu esgotamento. O desafio consiste em redefinir a conflitualidade histórica de um ponto de vista que não seja apenas intelectual, mas vital. Não se trata mais de colocar em oposição “dois grandes aglomerados molares, duas classes, os explorados e os exploradores, os dominantes e os dominados, os dirigentes e os dirigidos”, mas perceber a guerra civil que atravessa o corpo social como um todo e cada um de nós no interior dele, cada situação que vivemos. Donde a necessidade de pensar o processo revolucionário em qualquer ponto do tecido biopolítico, em toda linha de fuga que o atravessa, e intensificar e complexificar as relações entre elas.
Ao repassar o legado das insurreições recentes e pretéritas, e rastrear a emergência de novos protagonismos (mulheres, jovens, desempregados, além de todas as minorias já conhecidas e sempre excluídas), o balanço é categórico: novas modalidades de fascismo pedem uma deserção maciça: «deserção da família, deserção do escritório, deserção da escola e de todas as tutelas, deserção do papel de homem, de mulher e de cidadão, deserção de todas as relações de merda às quais SE acredita estar preso». Uma curetagem generalizada pede o abandono das identidades dadas, em favor de novas subjetividades, através de outras armas, rumo a direções inéditas.