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Eduardo Navarro Stotz

Do sindicato livre ao atrelado pelo Estado

O trabalho de Eduardo Navarro Stotz torna-se uma referência tanto histórica quanto teórica e metodológica para o estudo do sindicalismo brasileiro dos anos 1930. Sua reflexão se remete diretamente ao jogo da compreensão precisa da implementação de uma verdadeira engenharia política e social voltada especificamente para os operários e seus sindicatos, e o tutelamento deste pelo Estado; nos dias que correm a clave analítica se alterou, indo em direção de um mercado sem instituições controladas pelo Estado voltadas para este fim. No que toca ao estudo, o autor demonstrou com clareza e profundidade que a construção de um sindicato moldado pelo “corporativismo” não foi produto de mão única do Estado (ordenador) para o movimento operário (submisso). Sua lúcida pesquisa apontou que a formatação das inúmeras instituições trabalhistas, erigidas ao longo de toda a década, constituíram-se, sempre, num complexo processo de interações Estado-classe operária, Estado-sindicato, sindicato-classe operária, sindicato-sindicato, Estado-empresariado, sindicato-empresariado e sindicato-partidos políticos. Neste sentido, o viés narrativo do “corporativismo” puro é desconstruído pelo autor como produto da simples vontade do Estado. Tal versão, que perdura há mais de oitenta anos, é derivada da visão liberal que após a 2a. Guerra Mundial que associou o comunismo na URSS com o nazifascismo, tornando-se a base da negação contínua da legitimidade da representação sindical da classe operária.
Finalmente, consagrar a compreensão da ação do movimento sindical tal como encontramos neste trabalho desmitificará qualquer narrativa da classe operária se reproduzindo pela ótica simples que a imposição analítica de modelos pré-definidos tem produzido. A leitura de «A União dos Trabalhadores Metalúrgicos na Construção do Sindicato Corporativista: 1932–1945» qualifica este segmento social como ator legítimo. Tal é o legado deste trabalho e também, acreditamos, o caminho para a busca da identidade coletiva do mundo do trabalho — objetiva e subjetivamente construídas — elemento essencial para o constante enfrentamento dos grandes desafios contemporâneos da classe operária frente ao domínio do capital.

Bernardo Kocher
Professor de História Contemporânea
Universidade Federal Fluminense
429 printed pages
Copyright owner
Bookwire
Original publication
2020
Publication year
2020
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