Este e-book apresenta algumas consideraçõesacerca da tragédia grega na visão de Friedrich Nietzsche. Em Onascimento da tragédia, seu primeiro livro, o filósofo alemãopensa a tragédia grega assim como a arte, de um modo geralcomo sendo o produto da união de duas tendências artísticasantitéticas, mas complementares entre si: o apolíneo (forma) eo dionisíaco (embriaguez). Trata-se de uma leitura voltadapara a raiz exclusivamente religiosa da tragédia. Em suaabordagem, Nietzsche fixa o seu olhar na feição arcaica doteatro grego e vê a origem da tragédia no coro ditirâmbico, oqual considera como a imagem refletida do homem dionisíaco.Para ele, a tragédia grega é a manifestação do dionisismo, ou seja, da aceitação plena e entusiasta da vida tal qual ela seapresenta; da quebra de todas as barreiras que envolvem oshomens; de sua reintegração com a natureza e seu retorno auma espécie de Idade de Ouro, em muito parecida com aquelailustrada na peça As bacantes, de Eurípides.Com essa percepção socrática da arte, o coro e seu papel fundamental são absolutamente negligenciados, e à influência de Sócrates no que viria a ser a cultura ocidental é atribuído o pessimismo que, por sua vez, clama por uma renovação da arte. Em oposição às aspirações do homem racional moderno, que teve Sócrates como seu ancestral, faz-se necessária uma arte que nos permita um consolo metafísico como aos antigos gregos, pois a lógica possui seus limites que acabam por encerrar este otimismo latente, de modo que não se pode realmente encontrar a serenidade que indiretamente se visa alcançar por meio da ciência.