No tempo das sesmarias, em uma fazenda no interior do Estado brasileiro do Rio Grande do Sul, próxima à cidade de Passo Fundo, havia um enorme pinheiro torto, que deu nome à região e a uma propriedade que pertencia a seus antepassados. Paulo Ernani Rezende de Rezende de lá partiu jovem, aos 19 anos, em 1960, para Moscou para cursar Medicina. Paulo Rezende — como o chamavam na Universidade da Amizade dos Povos Patrice Lumumba (UAPPL) — viveu na Rússia em tempos de Guerra Fria, corrida espacial e grandes tensões, sempre atuante, dentro e fora da universidade. Naqueles momentos de efervescência política internacional, especializou-se, na França, como médico anestesista reanimador (UTI) e retornou a um Brasil diferente, no ano de 1967, no qual reinava o arbítrio de uma ditadura militar. Chegou a ser preso em Porto Alegre e em São Paulo, mas optou pelo autoexílio, tendo, inclusive, obtido a cidadania francesa. Filiou-se ao PS (Partido Socialista), foi membro da Comissão de Saúde Nacional e participou ativamente da construção do sistema francês de saúde. Dentre suas missões, coordenou a implantação do Samu192 no Brasil, numa parceria com a França, e atuou em outros países da América Latina. Na África foi um dos líderes do programa Esther para atender as pessoas vivendo com o VIH/SIDA. Paulo Ernani Rezende de Rezende sempre teve um amor instintivo pelas viagens, tendo conhecido todos os continentes, exceto Antártica e Oceania. Nesta autobiografia registra sua trajetória e, aos 80 anos, revendo suas memórias, pôde comprovar que foi persistente na busca de unidade entre ação e pensamento, desde quando saiu do Pinheiro Torto para enfrentar e conhecer este vasto mundo.