Integrados através de temas, expectativas e conflitos que falam das nossas brasilidades, os contos reunidos em Nós do Brasil dão continuidade aos relatos de O fim da feira (e outras histórias), primeiro livro de Laércio Lopes, editado em 2012. Entre convergências ideativas de alcance social, encontradas em ambos os livros, ao ler Nós do Brasil me ocorrem interrogações sobre o fazer literário, porque, diante desse ofício, muitos dizem: Como aquele escritor estava inspirado! Claro que existe certo enlevo que se acerca do escritor, às vezes, diante de algum fato, de uma ideia ou de uma imagem. Entanto, a escrita literária exige muito mais que isso. Torna-se, em grande parte, trabalho dos olhos e das mãos moldando a linguagem. Esforço do olhar e ver. Dádiva do olhar e enxergar. E ─ ressalte-se ─ o fazer literário vai além. Gera contiguidade do olhar, dizer, pensar e refletir, porque se trata de olhar e dizer com a pele, com os nervos e com o estômago, para atingir o avesso, a costura e a descostura das coisas e do mundo.
Mirian de Carvalho — poeta e ensaísta