Durante décadas psicanalistas reproduziram uma postura preconceituosa face à educação. A concepção de que o projeto civilizador se sustenta sobre a repressão e sobre o imperativo para que o sujeito sublime suas pulsões, implicava que toda educação seria repressora e contrária à ética da psicanálise. No entanto, a «hipótese repressiva», como a nomeou Foucault, deu lugar à compreensão de que o desejo e a sexualidade não são “naturais”, mas o produto de configurações históricas e transformações criativas frente ao instituído. Sándor Ferenczi e Donald Winnicott conceberam que uma educação psicanaliticamente orientada seria capaz de fornecer ao sujeito e à comunidade ferramentas para a emancipação da moralidade vigente. O livro que Alexandre Patricio de Almeida nos apresenta é fruto de extensa pesquisa acadêmica e de ampla experiência em instituições educacionais. Suas reflexões nos indicam a evidência de que pensar o sujeito dissociado do campo educativo seria regredir à uma psicanálise naturalista, ingênua e, portanto, estéril; assim como pensar a tarefa educacional desconsiderando a pulsão e o desejo implicaria tolher a capacidade criadora das nossas crianças e adolescentes.
Daniel Kupermann
Psicanalista e professor livre docente do Instituto de Psicologia da USP