É sobre uma velha esperança, aliás, é sobre algo que pouco sei o nome, mas chamo de esperança. É sobre qualquer coisa que dentro de mim se mexe, sobre qualquer coisa que faça barulho, mas que em dias alternados cala. É sobre contradições. Pra falar a verdade é sobre um acumulo de silêncios. De espasmos. De colisões. De estrondos. É sobre qualquer coisa que alimento. Aliás, não é sobre nada. Só vazios. Abismos. Febre. É sobre algo que desconheço, mas vi nascer de perto. É sobre tudo que calei a sós. É um soco no estômago. Um grito de agonia. Uma pele enrugada. Tende também para uma súplica longa. É sobre uma campainha nunca tocada. Uma ligação nunca recebida. É sobre uma espera no portão de casa. Uma porta aberta. Já disse e repito: não é sobre nada. Talvez seja sobre fraquezas (disso o meu armário anda repleto). É sobre complexos. Distâncias. Ânsias. É sobre noites não dormidas. É sobre um vazio de um lado da cama. É sobre todos nós. Mansidão. Quem sabe também seja até sobre um atropelo de trem. Sobre estrelas não contadas. Na verdade mesmo, é sobre qualquer coisa que treme a voz. Pausas longas. Histórias mal contadas. É sobre uma esperança se prostituindo em cada esquina de dentro da gente.