Hoje é inimaginável conceber a música brasileira sem as vozes de Cartola e Adoniran Barbosa. Mas, nos anos 1970, a situação era diferente: nenhum deles jamais gravara um LP, e a percepção do mercado era de que lançar discos dedicados aos veteranos era um desperdício de dinheiro. Foi quando entrou em cena o intrépido produtor João Carlos Botezelli, o Pelão, que tomou para si a missão de registrar alguns dos maiores compositores de nossa cultura. Além de Adoniran e Cartola, ele abriu alas para nomes como Nelson Cavaquinho, Donga e Carlos Cachaça, produzindo álbuns antológicos que corrigiram décadas de equívocos da indústria fonográfica. Em «Pelão — A revolução pela música», o jornalista Celso de Campos Jr. recupera a saga do produtor que fez do resgate dos compositores populares sua bandeira política — e, com isso, se tornou também um protagonista da história da música brasileira.
«Leio quilos de matérias em que aparece escrito que a música brasileira deve muito a Fulano e a Beltrano. Não sei. Normalmente os autores de tais balancetes puxam a brasa em direção ao próprio robalo e nos sentimos não em dívida, mas em dúvida. No caso do Pelão, podem crer, nossa dívida cultural parece aquela outra, a externa. É altíssima e vai durar para sempre — porque apreço não tem preço: não há dinheiro que pague, não apenas os serviços à nossa música, mas a generosidade e o desprendimento com que foram prestados.»
Aldir Blanc