Publicado em 1928, Macunaíma representou por muito tempo o símbolo do “povo brasileiro” ou ainda daquilo que chamamos de «nação”. Esta edição, que conta com o estabelecimento do texto de Telê Ancona Lopez e Tatiana Longo Figueiredo, oferece uma nova chave de leitura ao romance, com foco especial para as fontes indígenas utilizadas por Mário de Andrade em sua composição. Como disse o próprio autor: «copiei, copiei às vezes textualmente[…], não só os etnógrafos e os textos ameríndios, mais ainda, na “Carta pras Icamiabas”, pus frases inteiras de Rui Barbosa, de Mário Barreto, dos cronistas portugueses coloniais”. No texto de Lúcia Sá, se explicita a cópia de trechos inteiros do mito de Makunaíma, tal qual recolhido pelo viajante alemão Theodor Koch-Grünberg.
Como sugere a apresentação de Eduardo Sterzi, mais do que alegoria da formação nacional, Macunaíma seria uma grande realização literária da antropofagia, «capaz de colocar tudo o que existe sob o signo da devoração […], em que comer o inimigo é não mera destruição e assimilação de outro corpo, mas, antes de tudo, um modo de experimentar o ponto de vista do inimigo sobre todas as coisas, especialmente sobre si», citando Eduardo Viveiros de Castro.
As ilustrações do artista carioca Luiz Zerbini são feitas com um procedimento similar ao de Mário com as fontes indígenas em seu texto. As monotipias não são «representações» da vegetação tropical: são as próprias plantas e objetos entintados que são colocados na prensa, imprimindo e dando relevo com sua textura ao papel.
Para completar a edição, recuperamos os prefácios inéditos de Mario de Andrade, bem como o glossário de Diléa Zanotto Manfio, feito para a edição crítica de 1988, há muito fora de circulação. Nele, o leitor tem acesso ao significado de todas as palavras indígenas e regionais utilizadas ao longo do romance.