«A consciência do desejo e o desejo da consciência são o mesmo projeto que, sob a forma negativa, quer a abolição das classes.» (S. E, § 53, p. 35)
Notas de repúdio, assinaturas digitais, milhares de corpos atrás de notebooks e smartphones sem vida aparente, separados por fios e fibras, paredes de prédios e de casas.
A realidade é um mundo à parte e tornou-se objeto da mera contemplação. De maneira paradoxal, somos tanto mais imóveis, quanto mais a especialização das imagens se movimentam ao nosso redor no mundo digital. O espetáculo nos toma a vida para demonstrar o movimento autônomo do não vivo. E quanto mais nele estamos, mais imobilizados ficamos.
Mais de cinquenta anos depois do lançamento de «A sociedade do espetáculo», a atualidade da obra parece ter se desdobrado com a sofisticação dos meios de fornecimento da imagem.
Selfies, storys, números de seguidores e likes nos tornam escravos do ego. Somos governados pela imagem e pela nossa própria representação nas redes sociais. Pacificados por nossos próprios perfis e avatares.
Guy Debord dizia que o espetáculo é dinheiro, ou seja, sua outra face. Vivemos em uma época em que «visualizações dão dinheiro», esse fato ficou posto em toda sua dilacerante verdade.
Há formas de desestruturar o espetáculo ou o próprio espetáculo tornou-se o real?
Em “Debord: antimanual de leitura”, Douglas Rodrigues Barros apresenta como, para o militante francês, o espetáculo tornou-se a própria forma e meio adequado de manutenção da ordem.
Numa época como a nossa, quando a presença como identidade última se torna representação digital, fílmica, como diferença irredutível, toda nossa ação parece sem princípio, é preciso encontrar meios de transformar nossa passividade frente aos dispositivos que cancelam nossa imaginação política.
A presente obra, editada pela sobinfluencia, tem como finalidade fornecer um arsenal crítico que seja capaz de levar ao questionamento e à resistência da naturalização do espetáculo como um dispositivo de controle e imobilização.