Nesses tempos bicudos de muito ouro e pouco pão, da própria miséria globalizando a violência e a impunidade nos cinturões periféricos da megalópole cidade de Sampa («Da força da grana que ergue e destrói coisas belas», como cantou Caetano Veloso), um adolescente com problemas graves, difculdades familiares e frustrações comuns de sua idade, como ser sensível e esquisito que se acha, sonha em fugir com sua mochila de estrelas e outras novas ideias de justiça. Largar tudo e cair na estrada. Não em busca do pote de ouro atrás do arco-íris, mas fugir do mundo tal como o recebera, e que, fechado em si, não aceitava. O romance começa e termina com fatos reais, narrados a um professor e escritor numa biblioteca pública de escola de periferia carente, lugar de trabalho que virou um confessionário de neuras, um escutatório de riscos e de traumas de infância. Com começo e fim existencialistas e reais, cabia ao professor escritor e assim ouvidor encher o miolo da história com suas criações surreais, fantásticas ou de ficção científica. Deu no que deu. Eis o livro. Com um recheio inusitado o personagem ganha viço, lume, identidade; o livro ganha o sagrado manto diáfano da fantasia, e então o leitor surpreso e cativado faz a opção nesse contexto, embarcando na viagem da leitura como se também quisesse o seu Jardim Secreto, seu Eldorado, sua Neverland (sua Star Wars) ou Pasárgada, como solução e final feliz de uma história em fim de ciclo e começo de nova travessia quase que para muito além das estrelas.