«Havia uma casa…
… no alto da montanha mais alta da cidade.
Nós a chamávamos de…
A Casa das 100 Janelas!
… embora o número correto fosse um desses mistérios assustadores que entremeiam os sonhos mais desesperadores de uma criança.»
Quando era garoto, Chico tinha os melhores amigos do mundo e se apaixonou pela menina do outro lado da rua. Eram quatro crianças felizes e mergulhadas em sua inocência, percorrendo as trilhas da serra, discutindo com a seriedade dos adultos os novos gibis e livros que compartilhavam, as séries de TV, filmes… e resgatavam o soldadinho de plástico, o Cabo Donald, que Pedro Rezende escondia para que caçassem como se seguissem as pistas de uma caça ao tesouro. E então sua infância vibrante e feliz foi retalhada a fio de navalha porque seu pai foi acusado de assassinar Adélia Fortes. Um crime hediondo que chocou a cidade.
Trinta anos depois, Chico Rezende quis voltar a Bel Parque e prestar contas com seu passado. Enquanto revive os melhores anos de sua vida, dos mágicos e trágicos anos 1980, percebe também que tudo mudou — e que o passado nunca o esperou. Mas parece querê-lo de volta assim mesmo — espreitando da escuridão.
É a Casa. Alguma coisa aconteceu lá. Alguma coisa sempre aconteceu, mas nunca se revelou, escondida nos cantos velhos e escuros, fermentando na dor e no medo que impregnaram as paredes e o chão daquele lugar. Ela se alimenta disso. Seu grande amigo Mário também desapareceu, como seu pai, mas deixou pistas espalhadas em lembranças empoeiradas, cruzando as histórias de outras pessoas que parecem atraídas para a cidade como anjos hipnotizados pelo abismo. E todas as linhas sugerem convergir para o Solar dos Fortes, a Casa das Cem Janelas.