Tornou-se uma platitude afirmar que o campo educativo constitui uma arena de disputa política, em especial o subcampo das políticas educacionais, que vai traduzindo em medidas, ações, programas e projetos o balanço de poder em torno das ideias sobre a relevância e função social dos sistemas de educação a cada tempo histórico. Não poderia ser diferente, dado que é a educação, em particular a escolar e pública por ser obrigatória e tender à universalidade nas fronteiras dos respectivos entes federativos (estados e municípios), que cuida da formação da maioria populacional; que está implicada em ideias e ideais de sociedade; que socializa o patrimônio cultural acumulado pela humanidade; que prepara os caminhos iniciais da formação intelectual e profissional de milhões de jovens — enfim, pela educação e pela escola se desenha o futuro, o que é e sempre será tema de debate político de uma sociedade.
Em meio aos intensos debates e disputas em torno dos diagnósticos quanto aos resultados escolares, dos desafios que cabe à educação brasileira enfrentar e dos objetivos que a devem nortear, para atingir um ideal de sociedade e de cidadania, reúnem-se interesses e interessados dos mais variados campos. Em torno da educação é usual, e mesmo necessário, que governos e organismos público-estatais, empresas e empresários, estudantes e famílias, associações comunitárias e organizações sociais, sindicatos e partidos políticos, intelectuais e cientistas busquem apresentar suas visões sobre educação e representar seus interesses, compondo o que se convencionou chamar de stakeholders, termo advindo da administração privada (por si só um indicativo de perda de identidade escolar) cuja melhor tradução seria 'partes interessadas'. É também comum apresentar a educação, mormente a educação institucionalizada, obrigatória, como aquela que estabelece as condições necessárias — embora não suficientes — para mudanças sociais, culturais e políticas, argumento relativizado pela tese atribuída a Paulo Freire de que a educação não muda o mundo, muda as pessoas, e estas, sim, mudam o mundo. De todo modo, é na atividade educativa, especialmente no âmbito dos sistemas escolares, que se discute o futuro social que queremos e as expectativas que depositamos nas instituições educativas.