Situada no Estado espanhol, no noroeste de Península Ibérica, a Galiza, junto com o norte de Portugal, já foi definida como a «célula matricial da lusofonia». Foi lá que nasceu a língua que, por meio de Portugal, iria se difundir pelo restante do mundo. Não obstante os laços culturais e linguísticos que nos unem à Galiza, é grande o desconhecimento no Brasil a respeito da cultura, história e literatura galegas. É com o objetivo de começar a suprir essa lacuna que este estudo volta-se para as estratégias de construção da identidade e constituição do sistema literário na Galiza. Para isso, primeiramente, debruça-se sobre a noção de identidade cultural e suas mutações na (pós)modernidade. A seguir, rastreia o surgimento e as transformações dos conceitos de nação e nacionalismo, suas implicações na ascensão dos Estados nacionais modernos e a situação das nações sem Estado, detendo-se sobre o conceito de “comunidade imaginada”, cunhado por Benedict Anderson. A partir daí, depois de um mergulho na história da Galiza e nas origens de seu nacionalismo, problematiza, à luz da Teoria dos Polissistemas, o conceito de sistema literário e sua aplicabilidade à literatura produzida na Galiza e em galego. Então, após um olhar sobre a história da literatura galega e os problemas concernentes a sua língua e sua relação com o português, o trabalho se detém de maneira especial sobre três narrativas: os romances Arredor de si, de Ramón Otero Pedrayo (1930), Periferias, de Carlos Quiroga (1999) — ambos autores galegos –, e o relato de viagens Chão galego, do brasileiro de pai galego Renard Perez (1972). Com efeito, conhecer a Galiza e a sua história, longe de mero diletantismo, é uma viagem de retorno às nossas origens linguístico-culturais, um périplo de volta à fonte onde pela primeira vez soaram as palavras que hoje ouvimos e falamos.