Este livro vê na centralidade da devoção popular do culto às almas a presença convergente de elementos basilares da espiritualidade — experiências religiosas, dor, salvação, solidariedade, continuum vida-morte-vida — que não estão ligados a uma instituição ou matriz religiosa única, trazendo à tona o pluralismo religioso em chave popular. Por isso, a autora dialoga com as ciências, entende como necessária a transdisciplinaridade, ouve as interpelações nascidas da modernidade, e propõe novas questões para a fé e a prática cristã. E somente após cuidadosa análise dos dados empíricos, avança a hipótese de que, no núcleo mesmo do culto às almas, está uma das facetas mais significativas da soteriologia popular: para os que sofrem, a salvação entendida sub specie temporis e sub specie aeternitatis provém da solidariedade universal nascida da compaixão. Essa hipótese articula quatro realidades: o sofrimento, a compaixão, a solidariedade e a salvação. Seguindo o método indutivo de aproximação, a obra propõe uma teologia que assuma como lugar hermenêutico o sofrimento exposto nas entranhas dos sacrificados, causado pelas diversas formas de injustiça e opressão que grassam e esgarçam as relações econômicas, sociais e interpessoais, que afligem e corroem a vida dos devotos. Com isso, à luz da teologia das religiões, a obra ajuda-nos a identificar novas possibilidades para uma leitura teológica cristã das concepções populares, vendo nelas a potencialidade salvífica da solidariedade. Fruto de pesquisa para a livre-docência da autora, esta obra reflete sobre a popular devoção às almas, combinando a mediação da ciência da religião com a hermenêutica da teologia, a fim de sugerir, a partir da realidade vivenciada pelos fiéis, algumas pautas para uma teologia das religiões populares.