Qual a origem da desigualdade entre os homens? Esta pergunta atual, contundente e complexa fascinou Rousseau (1712–1778) em meados do século XVIII. O filósofo, impressionado com a grandiosidade da questão, produziu o Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Publicado em 1755, este ensaio exerceu uma grande influência não somente sobre o pensamento cultural e político da época — insuflando os líderes da Revolução Francesa com seu entusiasmo e a defesa apaixonada de seus ideais — como também serviu de base, mesmo que indiretamente, para diversos pensadores como Proudhon, Marx e Heidegger.
Rousseau, ao realizar um estudo crítico sobre a desigualdade, sustenta sua argumentação em dois grandes pilares: a instituição da propriedade privada — que seria o fator de grande ruptura na organização social da humanidade, desencadeador de guerras e crimes — e a ambigüidade da própria civilização, fruto do conflito entre o homem e a natureza, ao mesmo tempo perversa e impulsionadora do progresso.
Neste ensaio, Rousseau não aponta soluções para a desigualdade, mas identifica a natureza deste problema, para o qual O contrato social, publicado sete anos depois, busca a cura.