As 27 crônicas que compõem O romance morreu abordam de tudo um pouco: desde a deliciosa combinação entre cinema e pipoca — a de micro-ondas não vale, e dirá nosso cronista: «Esse aparelho perverte o gosto do grão, tornando-o mais uma festifude de gordura hidrogenada.» — à problematização inteligente e bem-humorada da leitura, do lugar dos livros na nossa vida moderna. A obra reúne sobretudo as crônicas do site Portal Literal, da coluna “Pensamentos Imperfeitos”, embora alguns tenham sido publicados anteriormente em jornais diversos. Com seu (re)conhecido domínio de linguagem e sua erudição, Rubem Fonseca trata com perspicácia e humor de temas e fatos corriqueiros, alguns recorrentes em sua obra, como a fisiologia humana, a violência urbana, a literatura, mas também abre espaço para o «ordinário”. Nada escapa aos olhos, nada é insignificante para o autor, que busca no cotidiano ou nas suas referências a matéria-prima para os seus textos, mesmo que seja sobre o prazer de se ler uma boa bula de remédio. Destaca-se, ainda, a crônica «José", escrita em cinco capítulos e em terceira pessoa, uma espécie de reminiscência da memória — o texto narra a infância que o autor passou em Juiz de Fora, cidade onde nasceu, e sua vinda para o Rio de Janeiro com apenas oito anos. Para os leitores de Rubem Fonseca, que, quando assediado pela imprensa, prefere o silêncio e alega que qualquer coisa que ele tenha a dizer está nos seus livros, temos aqui uma excelente amostra dos gostos, das opiniões e da visão de mundo do grande autor de Agosto e Feliz Ano Novo.