No ano de 2004 defendi, na Universidade Federal Fluminense, a tese de doutoramento intitulada Racismo e Movimentos Instituintes na Escola, sob orientação da professora Célia Linhares.
Lembro bem que na altura, no Programa de Pós-Graduação em Educação daquela universidade, pouquíssimos pesquisadores se debruçavam sobre a temática das relações raciais na escola e que a professora Célia abraçou comigo este tema, mesmo não trabalhando diretamente com ele. Porém, por suas preocupações teóricas voltadas à questão das memórias daqueles que foram dados como vencidos pela História, na mesma linha de Walter Benjamin, a professora sentiu-se à vontade para me ajudar a percorrer as trilhas de uma discussão sobre o racismo e seus processos sutis de reprodução e de superação na escola.
Recordo-me também, especialmente, dos comentários tecidos pelo colega Luis Fernando Sangenis, no dia da minha defesa quando ele lembrou muito bem as estreitas ligações entre o tema em foco e a minha história de vida, cujos fragmentos ele havia tido oportunidade de conhecer durante nossa trajetória no doutorado.
Ressalto que, embora aparentemente datado, este trabalho apresenta uma atualidade desconcertante evidenciada ainda hoje pelos resultados recentes de nossas pesquisas que indicam a sobrevida de processos sutis de manutenção do racismo na escola, quase sempre encobertos pelo manto da cordialidade, e o que é pior, sob o discurso de cumprimento da Lei 10639 que torna obrigatória a inclusão de estudos sobre a história e cultura da África e dos africanos no Brasil nos estabelecimentos escolares.
Assim como há dez anos, uma das formas de enfrentamento do racismo na escola articula-se diretamente ao mergulho nas memórias e as narrações que as organizam, o que implica dizer que deve passar necessariamente pela compreensão dos afetos e das emoções quase sempre de negações das diferenças que ainda pulsam dentro delas.