Flertando com a dramaturgia, com as memórias de uma infância conturbada, com uma espécie de diário fragmentado e também com o delírio e a insanidade, Priscila Gontijo constrói um romance que não se furta a explorar os limites: da língua, da estrutura, da existência e da loucura. O resultado é este originalíssimo O som dos anéis de Saturno, que transita entre diversos gêneros narrativos para fugir de qualquer rótulo e ampliar — com o ritmo, a dança e a música das palavras, como numa peça de composição impecável — as fronteiras da arte literária.
Priscila Gontijo escreve nessa beirada em que sentido e não sentido, sanidade e loucura, voo ou queda no abismo confundem-se. Um lapso, um descuido e: onde estamos? Tantas vezes é difícil saber. A exposição ao risco é próxima à crueldade de Antonin Artaud, e podemos, junto dele, e com o presente livro, ecoar para nossos tempos a mesma urgência: que a escrita seja viva, que afete os corpos e os invada, como a peste. […] Algo de crueza e ironia, a violência serena dos acontecimentos. Ao mesmo tempo, uma escrita corpórea, em que o ritmo, extremamente preciso, faz do texto o movimento, envolvente, que nos arrasta." [Annita Costa Malufe]