Mauro foi um menino que cresceu ao sabor dos acontecimentos políticos da década de 60 (seu pai era militante do PTB) e no início dos 70 teve a sua iniciação forçada no amor, nas drogas e, sem que ele percebesse, também na política.
Mas, ao invés dos guerrilheiros heroicos das organizações armadas, Mauro formou num contingente de pessoas até hoje pouco lembrado na ficção que retrata os anos de chumbo: os simpatizantes. Os jovens que não foram para a luta armada, mas mesmo assim sofreram a asfixia de viver naquele tempo sombrio, com direito inclusive a temporadas no DOI— CODI por causa de um pequeno descuido como um número de telefone em algum caderninho, ou simplesmente por estar na hora errada e no lugar errado.
Assim, sem atos de bravura no currículo, mas intenso na luta para crescer e virar homem, Mauro tornou-se um ótimo advogado, enriqueceu, não casou e nem teve filhos, e um dia se retirou para cuidar de um vazio a ser preenchido num caderno de memórias. É justamente nessa hora da vida que Mauro, na confluência de suas memórias com o seu entorno, é chamado para uma última prova que lhe cobra, mais do que qualquer dos rituais de iniciação do passado, um ato realmente de coragem e bravura.
Juntamente com a resistência dos jovens, Marcus Veras homenageia também a resistência da música e dos músicos brasileiros. Assim, a abertura de cada um dos capítulos do livro é um trecho de alguma música daquelas que foram indispensáveis no ato de resistir à tirania.