Esta não é uma história dos quadrinhos, nem uma investigação sobre seus méritos e deméritos, mas uma exploração que pretende definir suas coordenadas no mapa das linguagens da comunicação de massa (da ilustração à pintura, à fotografia, às artes gráficas, à poesia, à literatura, ao cinema), e suas contínuas e recíprocas interações. Mais do que diferenças ¬— que são, no entanto, um ponto de partida natural — a ênfase aqui é dada às semelhanças, ou melhor, às características comuns às várias linguagens. Uma abordagem sobre os quadrinhos que permite atravessar as linguagens que atravessam os quadrinhos, abrindo caminho para uma rica leitura de suas referências multimidiáticas, como um meio de expressão como este merece ter.
Cultuado no Brasil numa época em que havia poucos livros teóricos sobre o assunto, o livro de Barbieri veio mostrar aos pesquisadores que os quadrinhos são uma linguagem de características próprias, sim, mas que isso já estava provado e garantido. E que não havia, portanto, mais a necessidade de nos furtarmos da aventura de abrir bem os olhos para enxergar o que os quadrinhos comungavam com outras linguagens e que parentesco tinham com todas as outras formas de expressão baseadas na narratividade, em processos de inclusão, geração, convergência ou adequação com essas formas expressivas. Afinal, segundo o autor, «a comunicação é um ambiente geral cujos sub-ambientes, as linguagens, vivem tumultuosamente, afastando-se, aproximando-se, trocando características entre si, às vezes morrendo e outras dando vida a uma nova possibilidade expressiva».
O livro, um clássico da comunicação que por muitos anos fundamentou os estudos de quadrinhos na América Latina, foi originalmente publicado em 1991, tendo completado 25 anos em 2016, com comemorações, pompas e circunstâncias na Academia de Belas Artes de Bologna. Agora ganha sua versão em português, com tradução e revisão técnica de pesquisadores da área que com ela têm convivido nos últimos vinte anos.