Ancorada nas reflexões feministas sobre a globalização e a dinâmica
das relações sociais de sexagem, raça e classe, esta obra é um ensaio
sobre o uso da coerção como método — e sobre o rol da violência con—
tra as mulheres — para garantia de instalação do neoliberalismo global.
A instrumentalização de uma violência aparentemente “cega” que,
na realidade, é tanto controlada politicamente, quanto implacável,
constitui o “fio vermelho” que vincula os quatro textos que compõem o livro. Aterrorizantes semelhanças entre a tortura política e a violência
doméstica, em El Salvador na América central. A criação de uma clas—
se de sexo masculina dos «irmãos de armas», graças ao serviço militar
na Turquia. Difusão das técnicas de “guerra de baixa intensidade” no México. E perpetuação neocolonial das violências contra as mulheres
indígenas na Guatemala.
Falquet tece distintos níveis de análise para fazer trabalhar juntas as perspectivas teórico-políticas que, geralmente, são mantidas sepa—
radas. Assim, ao revelar continuidades que vinculam a violência misó—
gina aos métodos coercitivos militar-policiais, este trabalho expõe as profundas lógicas de gênero da governança global, aqui chamada, por meio de uma ironia, de Pax Neoliberalia.