No dia 7 de abril de 1998, Rui de Oliveira pegou o catálogo da exposição que acabara de ver na Galleria Borghese, em Roma. Abriu na página que mostrava o quadro Amor sagrado e amor profano, de Ticiano, e anotou à margem: «acho que nossas vidas se agitam nesse dualismo universal, pessoal, moral e fundamentalmente artístico». É essa ideia que viria a desenvolver em Quando Maria encontrou João. O sagrado e o profano, o perene e o momentâneo, os dois lados do amor. Este é um tema ao qual Rui de Oliveira sempre retorna. Os livros de imagens de Rui de Oliveira não foram feitos para narrar histórias — coisa que a palavra faz com muito mais eficiência. O enredo de Quando Maria encontrou João é simples. A complexidade do tema se expressa em cores e formas que conduzem o leitor à ampla gama de sentidos oferecidos pelos amores sagrados — e por isso eternos. Por esse motivo, a mesma árvore centenária que abre o livro o fecha. Ao falar daquilo que resiste ao tempo, Rui de Oliveira cria um fim que não termina, que não se vê como fim. Ao contrário, nos remete ao início. Como o leitor apaixonado por este livro, que mal o termina precisa retornar ao começo. Porque não o compreendeu? Nada disso. É porque quer compreendê-lo cada vez mais.Rosa Amanda Strausz