O engenheiro abolicionista: 1. Entre o Atlântico e a Mantiqueira — Diários, 1883–1884 é o primeiro volume dos diários de maturidade de André Rebouças, um dos principais intelectuais negros brasileiros, pioneiro na introdução e no ensino da engenharia civil no Brasil.
Rebouças manteve um diário íntimo desde seus primeiros trabalhos como engenheiro militar, logo após retornar de seus estudos na Europa, em 1863. No entanto, em meados da década de 1870 seu mundo viraria de ponta-cabeça em meio à crise na gestão de uma de suas principais obras e à morte de seu irmão, em 1874, e de seu pai, em 1880.
Como desdobramento dessa crise, entre 1877 e 1882 Rebouças parou de escrever diários ou destruiu, posteriormente, seu conteúdo. Quando os retomou, em 1883, está em Londres, em contato com o movimento abolicionista internacional e com diversos engenheiros e capitalistas, planejando portos e estradas de ferro. Desde então, escreveu diariamente em pequenas agendas.
Suas anotações começavam sempre com uma observação sobre o tempo e a posição dos astros no céu, seguidas da informação da temperatura do dia. Levantava-se geralmente às cinco da manhã e frequentemente associava a suas notas recortes de jornais, comentados no posfácio deste volume.
Apesar do estilo sucinto da agenda, o texto fascina e surpreende. Permite que o leitor acompanhe as atividades de Rebouças primeiro em Londres, onde ele se encontra com Joaquim Nabuco, já então o mais conhecido dos abolicionistas brasileiros. Em seguida, mostra-nos sua viagem de trabalho à Holanda e, pouco depois, o retorno ao Brasil, onde acompanhamos as atividades do engenheiro em Minas Gerais e sua atuação na imprensa da Corte em prol da propaganda abolicionista — até a abolição da escravidão no Ceará em 25 de março de 1884 e o reencontro com Joaquim Nabuco no Rio de Janeiro, em maio desse ano.