Trata-se de um dos livros emblemáticos da cultura ocidental e sem dúvida uma das obras literárias mais lidas em todo mundo nos últimos seis séculos. Publicado pela primeira vez em 1511, o “Elogio da loucura” é uma das críticas mais implacáveis à vaidade, orgulho e contradições da natureza humana. Dirigindo a sua sátira contra todos os estratos sociais, mostra-se seu Autor mais implacável no desmontar dos ridículos e abusos sobretudo dos poderosos da política, da Igreja e da vida acadêmica do seu tempo, usando de uma linguagem e processos literários altamente divertidos, mesmo para o leitor de hoje. No fundo de sua obra, encerra-se também, ou talvez sobretudo, uma mensagem de funda espiritualidade e uma afirmação e defesa dos valores do pacifismo, ou “irenismo”, conceito de que Erasmo foi, senão o iniciador, pelo menos seguramente um dos maiores e mais eloquentes apóstolos. Embora existam inúmeras versões deste livro editadas em Portugal e Brasil, tenho a convicção de que a imensa maioria (para não dizer a totalidade) delas não foi feita nem por latinistas de ofício nem a partir exclusivamente do texto original latino, circunstâncias estas que não se verificam com a tradução aqui proposta, pois Antônio Guimarães Pinto serviu-se dos textos originais (sobretudo do último texto corrigido por Erasmo, datado de 1532), e é o latinista de Brasil e Portugal que traduziu maior número de páginas de textos em latim, sobretudo de obras que nunca haviam sido vertidas para qualquer idioma moderno. No caso do Erasmo, já em 1999 as Edições 70 publicaram, sob o título de “A Guerra e Queixa da Paz”, duas de suas traduções de textos basilares deste Autor.