«Estudar Kardec pelo método de Kardec» é uma proposta instigante, tanto porque nos desafia a compreender com clareza o método por ele adotado quanto nos coloca diante de uma imensidão de informações que abrange as mais variadas áreas da ciência e da filosofia. Desde o lançamento do último número da Revista Espírita por Kardec, em 1869, até a atualidade, já se passaram mais de 150 anos. De lá para cá a ciência e a filosofia se consolidaram como áreas distintas de conhecimento; constituíram-se como novas áreas de estudo a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia, a Ciência Política e mais inúmeras outras áreas. Na Física, que já estava estabelecida, surgiram a teoria da relatividade e a física quântica. A Astronomia rasgou os espaços com novos telescópios, infinitas vezes mais potentes que o Leviatã, a grande novidade da época de Kardec. Na Biologia a teoria da geração espontânea, de Lamarck, cedeu lugar à teoria da seleção das espécias mediante a luta pela sobrevivência, de Darwin e Wallace; o padre Gregor Mendel descobriu a lei da hereditariedade e no final do século XX uma equipe de pesquisadores mapeou o genoma humano.
Ante tudo isso é inevitável indagar: como tudo isso impacta sobre o conhecimento espírita? Continuam fazendo sentido todas as análises levadas a efeito por Kardec com base na ciência e na filosofia do século XIX, ou há algum aspecto que esteja carecendo de uma adequada contextualização tendo em vista a sua aplicação agora, quando já estamos em pleno século XXI?