Mais que a história, a narrativa. O texto de Carol Rodrigues é hipnótico, tem um ritmo intenso e cativa o leitor com a urgência de suas imagens inesperadas. Na voz do prisioneiro, em sua travessia rumo ao exílio, a autora vai tecendo com engenho e habilidade os fios dessa história de crime e castigo e nos guiando pelos labirintos da memória e da linguagem para revelar aos poucos o que se oculta por dentro dos silêncios da ilha. A costura sutil é executada com maestria, remontando ao nascimento das gêmeas Mitra e Varuna, as carrancas com os dentes já prontos, a infância vivida junto com a amiga Ulina, o presságio das paixões avassaladoras e das tragédias que viriam a tomar conta do lugar. Depois da estreia com os contos do premiadíssimo Sem vista para o mar, Carol Rodrigues se afirma de vez com este romance como um nome de peso na literatura nacional, com talento e originalidade.