Interrompidos, estreia literária de Alê Motta, são como faca furando a pele. Coisa de minuto, o tempo exato de nos afundarmos na leitura e, pronto, já saímos deles doloridos de humanidade. São dezenas de narrativas curtíssimas nas quais a marca (e a cicatriz) da maldade se espraia, galvanizando as tramas aparentemente singelas. Os relatos, dominados pela primeira pessoa, são de súbito interrompidos, como o título da obra anuncia, não por outro motivo senão a ação, nefasta (ou piedosa?) da mão humana. Nada de deuses, entidades angelicais, altas esferas. Apenas vidas prosaicas, espíritos mundanos, rodapés da sociedade. Alê Motta mantém o leitor em controlada suspeição, impondo desfechos que surpreendem e incomodam, frutos de conflitos, ressentimentos e desejos absconsos de seus personagens. Maldosos, os narradores de suas nano-histórias as comprimem por um único motivo — a destruição do outro, ou de si próprio. Ante o eu, a alteridade forma, conforma e nos transforma, para o bem e para o mal. Com esses Interrompidos, Alê Motta já estreia machucando. Ainda bem. A literatura que almeja permanência tem mesmo de cortar, sem misericórdia, a névoa do nosso olhar naturalizado. "