«Para mim a escultura é o corpo. Meu corpo é a minha escultura». Essa frase de Louise Bourgeois, que serve como uma das epígrafes da obra de Gabriela De Laurentiis, explicita muito daquilo que a autora apresenta ao longo de seus capítulos. O fazer artístico e o fazer a si mesma que emerge pela análise detalhada do trabalho de Louise Bourgeois vai além de definições estritas e conclusivas do que seja o feminismo ou, mais ainda, a arte feminista. De Laurentiis apresenta o trabalho de Louise Bourgeois como um trabalho dotado de certa forma que permite a expressão da experiência de muitas mulheres.
Formas arredondadas, paisagens corporais, maternidade e paternidade, histeria, “ser mulher” e devir-animal; todas essas conceitualizações, materialidades, percepções, são conjugadas em “Louise Bourgeois e modos feministas de criar”, de modo a dar forma a uma percepção e compreensão próprias da obra de Bourgeois que, talvez, perpasse a história da arte, como convenção acerca das técnicas, estilos e formas expressivas à luz de uma sincronicidade temporal. A partir da forma própria da obra de Bourgeois, De Laurentiis problematiza a noção de história da arte e do lugar da mulher artista em tal história, desafiando convenções e noções binárias e antitéticas por excelência, pares opositores que tradicionalmente refletem a hierarquização e normatização sociais modernas.
A obra foi publicada no Brasil pela primeira vez em 2017 (Annablume), ganhando tradução espanhola em 2020 (No Libros). Desta vez, o trabalho retorna ao público nacional em novo projeto gráfico e novo posfácio, assinado pela professora Ana Paula Simioni, da Universidade de São Paulo (USP), além de contar com as apresentações originais de Edgard de Assis Carvalho (PUC-SP) e prefácio de Patrícia Mayayo (Universidad Autónoma de Madrid).