O tirano é um dos personagens mais duradouros da vida pública ocidental. Seu aparecimento remonta à época arcaica, coincidindo com o momento em que a sociedade grega experimentava novas soluções para os graves problemas que a afligiam. Nesse sentido, ele é filho do mesmo movimento que criou a democracia, tendo-se constituído com o passar dos tempos em seu oposto simétrico. Este livro se dedica a seguir o desenvolvimento dessa figura extrema da vida política em alguns momentos essenciais da cultura grega antiga. Partindo de uma de suas primeiras manifestações na poesia de Sólon e nas referências dos historiadores, encontra nas tragédias um marco importante para a definição do caráter ambíguo dos governantes ilegítimos como Édipo e Creonte. Uma parte significativa deste estudo se concentra, no entanto, na análise das obras de Aristóteles Platão e Xenofonte, pois foi nelas que veio à luz toda a complexidade dos regimes baseados na força, assim como as perversões e o poder de sedução do governante solitário. Partindo dessas análises, podemos compreender alguns aspectos do fascínio que a tirania exerce até hoje em atores determinantes de nossas vidas em comum.