Fred Moten investiga as conexões provocativas entre jazz, identidade sexual e política preta radical. Ele se concentra em particular no brilhante jazz improvisatório de John Coltrane, Ornette Coleman, Albert Ayler, Eric Dolphy, Charles Mingus e outros, argumentando que toda performance preta — cultura, política, sexualidade, identidade e a própria pretitude — é improvisação. O livro oferece insights seminais que emergem da tomada de som, em oposição a imagens visuais ou textuais, como ponto de partida para a interpretação. Por exemplo, ao considerar o famoso relato de Frederick Douglass sobre o «terrível espetáculo» da escravidão, Moten identifica os gritos da tia Hester de Douglass como a materialização em som da resistência preta, abrindo assim para uma nova maneira de entender o trauma da escravidão como algo não apenas visto, mas também enfaticamente ouvido..
Em seu livro Na quebra — A estética da tradição radical preta, Fred Moten oferece uma meditação radical sobre a ontologia preta em sua (im)possibilidade, definida na oscilação ruidosa entre o aprisionamento imanente na materialidade e a possibilidade a priori de uma anterioridade metafísica, em que reinaria a universalidade possível para a pretitude. Questão central para a filosofia, essa localização excruciante radica na distância interposta entre a coisa e o que a representa […]. Assim, nenhuma ontologia possível para a pretitude; assim, a irrepresentabilidade essencial, uma coisa entre as coisas, na «profundeza sólida de minha pele». […] Por isso, pretitude é performance, a perturbação interposta entre pessoalidade e subjetividade. Entre tempo e presença. Entre a carne arrancada e a palavra roubada.
Prefácio à edição brasileira, de Osmundo Pinho