Martin Stieglitz é um herdeiro — tem uma vida confortável, sem exuberâncias, e mora em um bairro nobre de São Paulo. Mas é herdeiro, antes de tudo, de certos hábitos e valores da sua família, que emigrou para o Brasil na geração dos seus avós. Suas heranças são partilhadas por outros descendentes de imigrantes de mesma origem, que compõem o círculo de suas referências existenciais, pessoas que se imaginavam integradas à burguesia europeia, mas que se viram obrigadas a se estabelecer no Brasil. A chegada a São Paulo de uma figura importante para essa constelação de descendentes põe em marcha uma narrativa em dois tempos: um passado cuja fulguração parece tanto mais forte quanto maior a sua distância, e um presente indecifrável e ameaçador. Em O outono dos ipês-rosas, Luis S. Krausz tece uma narrativa sobre memória, identidade e a complexidade de se encontrar em um mundo que oscila entre a riqueza do legado e a inconstância do agora.