A pena poética de Rui José Carvalho propõe-se discorrer habilmente sobre a imagem do fotógrafo António Caeiro, numa obra que explora os recantos subjetivos da primeira pessoa. 'Desertos', com a Folha de Sala de Paulo José Miranda, apresenta-nos uma díade que causa uma vertigem no texto. A imagem falaria por si só, mas o texto traduz para palavras uma atmosfera indizível — assim acontece o encontro do poeta com o fotógrafo. Rui José Carvalho caminha por três vielas estreitas que convergem naturalmente para uma estrada comum: a poesia que é prosa, que é ensaio, que é absoluta poesia. O recorte fotográfico de António Caeiro inspira a crueza deserta da lente humana, isolando pormenores estáticos a nu, que provocam pelo canto do olho a crueza da alma do leitor, a quem resta absorver de um trago uma dupla inevitável.