…) José Gil toma como matricial de todo esse processo, um alguém atenta para as mínimas sensações intersticiais que lhe
sobrevêm, sensações estas tomadas como ondas transportadoras
de outras sensações que se lhes associam, sensações transformadas
em arte, que são também sensações de um outro, múltiplo
gerador de outros. “Escrever poemas”, diz José Gil, "é escrever
segundo a lógica da heteronímia, é iniciar um processo de deviroutro que deverá necessariamente levar à produção poética dos heterônimos". Sentir-se outro, ser outro desde o primeiro ato poético da sensação, implica fazer-se (poeticamente) outros. E só
existirão os heterônimos, esses outros, porque cada um deles já é
outro para si mesmo, e participando todos de um vertiginoso jogo
caleidoscópico. (…)
excerto do prefácio de José Miguel Wisnik