A trama se passa num país imaginário — nem tanto assim — onde a cultura e a arte não são valorizadas pelas autoridades. Dois velhos atores são abandonados pela família num asilo prestes a fechar suas portas, pelo total desinteresse oficial, pois tudo, literalmente tudo, passará a ser virtual. Para sobreviver, a dupla se alimenta das lembranças de um tempo em que havia interesse pela cultura e pelas artes. Os dois velhos artistas vivem de suas recordações do que de melhor houve no teatro, em qualquer tempo. Representando um para o outro trechos de grandes autores, a vida lhes parece um pouco mais tolerável.
Tudo muda quando eles ficam sabendo de um concurso público de peças teatrais originais. E os dois passam a viver o sonho de juntos escreverem uma peça com a qual possam vencer o tal concurso. Depois de muitas idas e vindas, na busca de uma peça original que pudesse sair-se vencedora, a tentação de fazerem sutis alterações em obras consagradas parece dominá-los. Mas como não serem descobertos, se as obras que planejam utilizar são os grandes clássicos da história do teatro?
Não esqueçamos que tudo se passa num país imaginário no qual as autoridades jamais dedicaram mais do que alguns míseros tostões à educação. Consequentemente, as escolas foram sempre de baixíssima qualidade. O resultado é previsível: numa sociedade em que predominam indivíduos sem cultura, talvez a comissão julgadora nem percebesse uma possível fraude. Afinal, um povo sem cultura torna-se presa fácil nas mãos de vigaristas, mentirosos e oportunistas.
Para aqueles que perguntam qual o custo para um país de uma boa educação, deve-se responder com outra pergunta: e o preço da ignorância, não é infinitamente maior? A sociedade paga um elevado preço pela falta de educação e de cultura de seu povo. Na verdade, se o povo é ignorante, o perfil dos membros da comissão julgadora do concurso talvez não seja diferente. Em resumo: o resultado do concurso não surpreende.