Em Altíssima pobreza, Giorgio Agamben aprofunda as reflexões sobre o universo sacerdotal iniciadas em obras anteriores da série Homo sacer e se lança em uma pesquisa sobre as regras monásticas, ou seja, a obediência a um conjunto de comportamentos, princípios, hierarquias e hábitos, práticas repetidas todos os dias para marcar o tempo da comunidade. O filósofo italiano propõe uma rigorosa genealogia das formas monásticas, originárias da Idade Média, relacionando-as às liturgias, à vida comum, às instituições de poder, para construir um duplo caminho: em um profundo mergulho na histórica do pensamento religioso, o autor nos remete diretamente aos dilemas do contemporâneo. Nesse estudo fascinante, o autor reconstrói em detalhes a vida dos monges, de Pacômio a São Francisco, para abordar duas dimensões da vida, geralmente apresentadas como contrapostas: o ser e o parecer. O objetivo principal ao analisar o caso exemplar do monasticismo é a tentativa de construir uma forma-de-vida, «ou seja, uma vida que se vincule tão estreitamente a sua forma a ponto de ser inseparável dela», afirma nas primeiras linhas do prefácio. É nessa perspectiva que a investigação se confronta sobretudo com o problema da relação entre regra e vida, que define o dispositivo pelo qual os monges tentaram realizar seu ideal de uma forma de vida comum, na qual tanto “regra” quanto “vida” perdem seu significado ordinário para apontar na direção de uma terceira via. Para compreender a forma de vida monástica, o experimento crucial da investigação é a análise dos movimentos espirituais dos séculos XII e XIII, que culminaram no franciscanismo, ao qual Agamben dedica grande parte do livro.