Estamos vivendo um momento paradoxal da nossa história, em especial a brasileira. Muitos eventos marcam este período, desde a catastrófica pandemia da Covid-19, a desconcertante política nacional que vem contrariando a tendência mundial em relação à proteção ambiental e dos povos originários, mas também, pela existência de uma produção inquieta de arte, pesquisa e encontros para a sobrevivência física e cultural. No meio desse emaranhado de acontecimentos nasce o livro digital: Teatro e os povos indígenas — Janelas abertas para a possibilidade, enquanto uma coletânea que reúne diferentes vozes, em torno do fazer teatral dos povos originários.
Apesar de haver ainda poucas publicações que lidam com essa reflexão, é interessante perceber que em todas as regiões do Brasil, bem como em países vizinhos da nossa «América Latina, existem artistas, professores universitários, pensadores indígenas e não indígenas praticando, experimentando e pensando a arte teatral em um atravessamento entre cosmologias diversas. Como outros campos artísticos, a relação entre o teatro e os povos indígenas é um espaço a ser confrontado, problematizado, estudado, pautado, a partir de suas estéticas, intenções, encontros e hibridações. São fazeres que geram questões sobre o lugar histórico do teatro enquanto instrumento da colonização, como o mercado da arte se organiza e quais são as suas disputas, a importância da representatividade, a construção «de narrativas indígenas demarcando identidade por meio de espetáculos e performances e, até mesmo, sobre as possibilidades de rever e reconstruir o que seria uma noção exclusiva do fazer teatral.»