«Isso de matar, Carolina não entendia. Entendia de se entregar. Se a gente gosta, não se entregar por quê? E enquanto olhava o tempo mormacento e as poças d'água evaporando no calor da manhã, pensava em Benvindo. Ele viria quando o sol se deitasse na lonjura do horizonte e antes da lua escorregar para fora dos morros. Benvindo chegaria com a escuridão e se amariam rolando na areia da praia sem que luar nenhum pudesse denunciá-los. O quartinho nos fundos da igreja ficaria pronto e não seria preciso mais rolação na areia, ela gemendo o quanto podia e ele dizendo coisas safadas que ela gostava de ouvir, como aquilo de que seus peitos eram grandes como a ilha do Monte do Trigo.» Uma praia e personagens que ali vivem acompanhados por quatro décadas. O lugar muda, os personagens, também. Só não muda o amor alucinado de Venâncio por Veridiana, ela escultora famosa que tem ali casa de veraneio, ele um moleque que lhe vendia pitus e um dia vira seu caseiro, motorista, jardineiro, provedor de peixes e amante. Em torno do casal há outros personagens. Carolina, a de muitos homens, que ia dormir com um deles no quartinho nos fundos da igreja. Dona Quicas, o jornal falado do local, “falado”, aliás, na pitoresca linguagem caiçara, com termos não mais utilizados e palavras inventadas pela criatividade do povo ali nascido. O médico de fora que assumiu o filho que sua Tereza teve com o trabalhador da Rio-Santos. Kurt, o alemão dono do hotel que cantava “Bruderlein drink”. Izaltina, brabeza e seriedade encarnadas que, um dia, em briga com o marido pespegou-lhe o aviso «quem não pode co'as calça, arria!” O tempo passando, o amor escorregando pelos quintais e pelas casas e um dia a violência explodindo.