«Literatura é telepatia», como sugere Victor Drummond, no prefácio deste novo livro de Eduardo Frota, Queimem minhas linhas até que virem cinzas. Esta também é a conclusão de Stephen King, para quem escrever é seduzir, é magia, é criar cenas e imagens na mente do leitor.
Eduardo Frota atravessa os seus próprios incêndios, em busca do que ainda arde, em busca do pouco que subsistiu às chamas da vida. Entre os incêndios, pergunta-se — onde estava com a cabeça quando decidiu escrever?
Seguimos as linhas queimadas de Frota, procuramos por entre as cinzas e nos questionamos: quais são os ventos e relâmpagos que nos beijam, criam fogos-fátuos, antes que venha o sol?
Texto a texto, o autor reconstrói consciência e desejo, lucidez e loucura, reconquista o seu espaço sagrado, o espaço de criação em que, sozinho, conjura monstros. Traz consigo Carl Sagan, Sinatra, Chet Baker, João Gilberto, Rilke, entre os outros que cruzam o seu imaginário, enquanto está a arder por dentro.
Frota escreve porque é inevitável, é o seu modo de viver, é o seu modo de estar, é o sofá de casa, onde senta e fica, sem desejar sair. Frota escreve porque tudo à sua volta queima, mas o autor está vivo e não quer apressar o passo na iminência da tempestade. Deixe que ela venha! Nesse túnel inexorável da vida, há quem leia para atravessar tempestades, e há os que escrevem. Estes últimos, criam com as próprias explosões, riscam o firmamento, são capazes de fazer tremer o ar.