Muito se fala sobre os enigmas contidos na obra da escritora Clarice Lispector (1920–1977), que trata em seus livros de todos os temas da literatura, da filosofia, da vida e da morte. Clarice é uma autora que provoca a filosofia. Foi logo comparada aos existencialistas, alemães como Heidegger, franceses como Sartre. Outros buscaram reconhecer o seu Espinozismo e as linhas do pensamento judaico. Para muitos, Clarice é uma autora mística, às vezes cristã, às vezes budista ou bramânica, cabalista e macumbeira, cheia de bolas de cristal. Qualificar de «filosófico» um autor é, de certa forma, admitir que à literatura falta alguma coisa, incluindo a própria capacidade da experiência do sentido que se chama pensamento.
Marcia Schuback, no entanto, mostra como a obra de Clarice nos desvia dessas longas disputas da cultura entre filosofia e literatura, prosa e poesia, sentimento e razão, sensibilidade e intelecto, linguagem e realidade. «Ela nos devolve para a fonte de todas essas disputas, para um antes da filosofia que não é nem mito nem caos. Clarice nos devolve para o sendo, o gerúndio de ser, o sendo que já é pensamento e não o objeto de um desejo do pensamento. A sua obra “descortina” o sendo-pensamento 'atrás do pensamento'", explica a autora. «Se damos como subtítulo desse livro 'a filosofia de Clarice Lispector' não é de modo algum para buscar a legitimação da filosofia ou para extrair uma nova ou outra filosofia de sua obra. É somente para indicar que a experiência do sentido, isso que se chama pensamento, é o fio que me orienta no labirinto de seus textos”, completa Marcia Schuback.
Atrás do pensamento é, portanto, um livro que mergulha de maneira inédita no fazer literário de Clarice Lispector.