Um texto literário pode deixar marcas, rastros na formação do sujeito leitor, se, na prática da leitura, os sentidos do corpo deixam-se afetar pelo que é lido. A textura da palavra literária, o ritmo, seus jogos de sentidos são elementos que podem provocar naquele que lê releituras de si e do mundo. Para se experimentar um texto, é necessário, por um lado, colocar a atenção nos sentidos da palavra e, por outro, abrir ao texto os sentidos do corpo de quem o recebe. Uma relação carnal com o texto permite compreender a palavra literária, não somente por meio de uma perspectiva analítica, mas também sensorial, de forma que o ato de ler, silencioso ou em voz alta, seja tomado como performance, como movimento de sentidos. No ensino de literatura, não basta, portanto, limitar-se a categorizar as obras, reduzindo-as a tipificações ou memorização de quadros estéticos e históricos de escolas literárias.
Este livro procura contrastar um olhar excessivamente categorizante sobre o fenômeno literário por vezes presente em sala de aula com uma perspectiva que prioriza um contato efetivo com o texto. A experimentação da leitura do texto no ensino de literatura permite que o aluno leitor, não somente atravesse a obra, mas principalmente seja atravessado por ela. Quando um texto literário em algum momento estremece o leitor, acontece algo mais do que conhecer o que se leu. Ocorre, aí, uma convocação dos sentidos, um frêmito, uma relação da qual não se pode escapar ileso.