Chama de Ferro

Lentamente, ele sobe o olhar pelo meu corpo, e parece que demora anos para que simplesmente olhe para mim.

Quando finalmente o faz, eu ofego, minha mão segurando a dele com mais força por reflexo.

Minha mãe — tento explicar, mas sinto um nó na garganta. — Ela… a pedra de égides não tinha nenhum poder, e minha mãe…

— Ah, Vi. — Rhi dá o passo que nos separa e me puxa para um abraço.

Quando ergo o olhar, Brennan está sentado na escadaria que leva ao prédio administrativo parecendo pronto para desmaiar enquanto dá ordens, e não vejo Mira em lugar nenhum.

Preciso ver Tairn e Xaden.

— Estamos aqui na frente — Tairn me informa.

Você está viva. Vai viver hoje. Vai acordar amanhã — me promete Tairn, enquanto me forço a colocar um pé na frente do outro.

A maioria dos generais sonha morrer a serviço do próprio reino. Mas você me conhece, meu amor, e sabe que eu não faria isso. Quando eu morrer, será por um único motivo: para proteger nossos filhos.

— Correspondência nunca enviada e recuperada da general Lilith Sorrengail

A escolha foi dela — sussurro, mas as lágrimas que escorrem das minhas bochechas não expressam resignação, exatamente, nem os soluços que irrompem pelo corpo de Mira, e o olhar vazio que vejo no rosto de Brennan não é nada pacífico

Brennan se arrasta até ela.

Não consigo respirar. Ela era a maré, as tempestades, o ar em si, uma força da natureza grande demais para ser extinta sem destruir o centro do mundo. Como pode só ter partido desse jeito?

— Eu sinto muito — choraminga Sloane, baixinho.

— O que foi que você fez? — berra Mira outra vez, a fúria completa voltada para Brennan.

— Xaden precisa de você — diz Andarna, mas não consigo me mexer. — Tairn e Sgaeyl estão esperando ao lado dele.

— Precisamos tirar todos daqui — fala Aaric.

Um zumbido distinto de fazer os pelos arrepiarem se ergue da pedra de égides enquanto mamãe cai para a frente, nos braços de Brennan.

Sloane cambaleia para trás, encarando as palmas da mão como se pertencessem a outra pessoa, e Aaric finalmente me solta.

Eu me lanço para a frente, caindo de joelhos onde Brennan está sentado segurando o corpo de mamãe no colo, a mão trêmula quando toca no rosto dela. Meus dedos encontram o pescoço dela, mas não há pulso. Não há calor. Não há vida.

A única coisa que ouço são os passos de bota correndo até a câmara.

Ela se foi.

— Mãe — sussurra Brennan, o rosto desmoronando enquanto olha para ela.

— O que foi que você fez?! — Mira se joga de joelhos, desvencilhando o corpo de mamãe de Brennan, as mãos furiosas procurando o que as minhas procuraram há pouco, qualquer sinal de um batimento cardíaco. — Mãe? — Ela treme violentamente, mas a cabeça de mamãe rola para o ombro dela. — Mãe!